terça-feira, 23 de novembro de 2010

Se Tu viesses ver-me

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha
A essa hora dos mágicos cansaços
Quando a noite se avizinha
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... O eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traças as linhas dulcíssimas de um beijo
E é de seda vermelha que canta e ri

E é como um cravo ao sol da minha boca...
Quando os meus olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti....


Florbela Espanca in "Charneca em Flor"

2 comentários:

Anónimo disse...

Um dia, a vida deu-me um grande privilégio. Deu-me o privilégio de conhecer o alguém que me apresentou a obra desta grande poeta. Esse alguém, nesse momento passou-me veneno para as mãos, um doce veneno que bebi sem hesitar e que beberia novamente sem a mesma hesitação, mesmo tendo agora consciência, que os seus efeitos me possam vir a consumir aos poucos sem eu dar conta disso durante dias incontáveis.
Quando só, abri o livro ao acaso, este foi o poema que primeiro li. Devo tê-lo lido três ou quatro vezes de seguida e já com todo o seu veneno a percorrer-me as veias, os olhos fecharam-se-me e a minha mente voou decidida. Sabia exactamente para onde queria ir, quem queria encontrar e ver naquele preciso momento. A distância era grande mas ainda assim não bastou para me fazer desistir, queria ser o “tu” que inflama o poema e que não fosse demasiado “à tardinha” para que eu ainda encontrasse quem desejava.
É certo que não encontrei quem queria e da forma real que pretendia, mas senti que uma nova luz havia começado a brilhar dentro de mim. Uma menina-luz que brilhava sobre um fundo tão escuro.


“barco bêbado”

Anónimo disse...

Graças a ti crioula, o meu mundo tornou-se num enorme poema de florbela espanca...os meus dias são ansiedade, alegria, angustia… as minhas horas são a constante privação de quem desejo… os minutos são-me como uma eterna condenação…

“barco bêbado”