quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sem rumo....

Sem rumo...Esta tarde sinto-me assim...É Outono e a noite tem pressa de chegar. Invade a janela do meu quarto escondendo tudo aquilo que o dia hoje me mostrou..
De onde estou consigo ouvir o sino da torre que me avisa que já passou uma hora, e outra...e outra...tudo parece estagnado, preso em resignação e inércia tudo e eu, se fizer parte de tudo.
O vento leva as folhas para longe e despe as árvores... Sim, é Outono e tudo se pintou de castanho, é tudo monótono de mais para mim.
Estou deitada na minha cama, no meu quarto, o único sítio que reclamo como meu, o território onde convivo com os meus sonhos...
Vinte e dois anos passaram por mim quase sem deixar rasto, vinte e duas Primaveras e Outonos como este também... Oiço o barulho dos carros apressados em chegar, no fundo a lugar nenhum, lembram-me a essência da minha própria vida.
Tal como eles sempre tive pressa a chegar, nunca pensei em entender com é o caminho que me leva até onde quero ir. Pensando bem o que vale na vida é a luta que travamos com o resto do mundo para podermos chamar algo de nosso.
Quando percebemos que já temos o que queremos, pelo que iremos lutar então?
Eu reclamo a paz que não tenho, o amor que me foi negado. Reclamo um sitio onde pertença, uma terra com o meu nome que não fique longe de lado nenhum.
Esqueço-me então que quanto mais luto menos paz tenho, menos conforto alcanço, menos amor recebo...Fico então longe de todos os lugares e longe de mim... É pois, esta sede de conquista que me impede de sossegar e permanecer em todos os lugares que me lembram de ti.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não desesperes por não sentires rumo nem norte, pois olha, começam a tornar-se-me incontáveis as tardes em que sem desejar navego sem rumo mas ainda me sinto o mesmo. O mesmo que não pisa terra firme vai para vários meses.
Que escrita a tua Filipa! Que força essa com que necessitas de cavalgar no teu triste corcel alado! Que fado o teu! Que indefectíveis cintilações que a lua irradia na tua alma!

“Vogava eu fatigado no meu estreito e frio barco apenas com a força para o abrir de um olho quando acordei entre ti e a lua. Não ousei mexer-me, de resto nem o conseguiria. Tu declamavas e confessavas-te a esse farol poderoso na imensidão da noite, trocavas as tuas confissões por uma brisa de alento que na maioria das vezes apenas te chegava num breve e penoso suspirar que voava sempre e rápido para muito longe. Quando me brindaste com a tua escrita, o teu mundo, o teu livro aberto, pus-me de pé no meu barco, e enfeitiçado estendi a mão às centenas de pequenas letrinhas que brilhavam como fortes estrelas e que com a tua inocente permissão me dardejaram, trespassando-me a meio da sua caminhada rumo à lua. Que brisa senti soprada de ti! Que calor meloso senti no meio do meu interminável e frio oceano, que me deixou vários dias petrificado olhando em meu redor, insistindo na admiração alucinada do que vem de ti”

Que frias mas reconfortantes são as tuas desesperadas estrofes que levam o teu olhar a ter a imensidão do mundo! Esse olhar com que sempre me deparo cada vez que venho a este portal e me puxa como um chamamento.
Quem és tu, menina que brilha num fundo tão escuro? Que veneno o teu a que não sou imune? Que droga tão poderosamente forte a que não estou habituado?
Agora que por instantes me é permitido voltar a pensar deparo-me com um mar de perguntas, às quais não tenho pressa em saber a resposta. Apenas uma coisa me surge como algo concreto. Estou certo que olho para ti como algo belo e muito grande e ainda nem sequer consegui olhar para mais nada em ti a não ser esse teu imenso e terno olhar.

"barco bêbado"

Anónimo disse...
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